Foi durante uma jornada normal de trabalho que Pedro avistou uma certa moradora de San Jose
Passado o baque inicial da chegada à Califórnia, Pedro de Saisset foi, aos poucos, conquistando o seu espaço naquele novo mundo. A primeira década exigiu trabalho árduo e a construção de uma relação de confiança com os locais, migrantes e imigrantes, que se estabeleceram na região em busca de oportunidades. Com paciência e muito foco, ele também foi prosperando e adquirindo algum patrimônio. O filho de D. Pedro I era inteligente, educado, tinha boa formação e sabia conversar. A capacidade de falar o inglês, o espanhol e o francês, permitia-lhe transitar por todos os grupos que faziam negócios em San Jose e arredores.
O porto de Alviso, nesse sentido, era o lugar perfeito para encontrar pessoas e estabelecer contatos. Todos passavam por ali. E foi durante uma jornada normal de trabalho, entre o embarque de feno e o desembarque de madeira, que ele avistou uma certa moradora de San Jose. Um pouco depois desse encontro casual, recebeu uma carta redigida em espanhol. “Se o senhor deseja ser meu esposo, eu também assim o desejo. Sugiro que venha à minha casa e fale com Dom Antonio Suñol. Diga-lhe quais são as suas intenções. Quando Dom Antonio souber que o senhor quer se casar comigo, o senhor poderá ir à minha casa com mais confiança. De minha parte, poderei recebê-lo com mais franqueza.”
A carta estava assinada por Maria de Jesus Suñol, viúva de Dom Jose Suñol, assassinado em março de 1855. Jesusita, após a morte do marido, foi morar na casa do sogro com os três filhos: Dolores, Josefa e Narciso. Os Suñol eram uma família abastada e de grande influência política na região. Dom Antonio Maria, pai de Dom Jose, nasceu em Barcelona, na Espanha e foi educado na França. Na segunda metade do século XIX, figurava entre os maiores proprietários de terra de San Jose e foi prefeito da cidade por dois mandatos, em 1826 e 1841.
Movidos por amor ou pela praticidade e interesses comuns, Pedro e Jesusita se casam em 17 de janeiro de 1859, não muito depois dessa carta. A cerimônia acontece na Igreja St. Joseph, construída em terreno doado por D. Antonio. De início, o casal vai morar numa modesta casa de adobe. Mas Pedro sabe que, a partir daquela união, a vida vai mudar, e muito. Com novas responsabilidades, ele inicia a construção de uma moradia para a família na pomposa rua Market Plaza. Em estilo vitoriano, a casa tem três pavimentos e um grande jardim. No ano seguinte ao casamento, ele ainda está registrado no censo como trabalhador braçal, com pagamento em diárias. Mas essa situação não tarda a mudar. Um pouco depois, ele se torna agente imobiliário e de seguros.
Jesusita levou para o casamento a herança de Dom Jose e algumas terras vindas da sua própria família, os Palomares. Esses bens, acrescidos dos que Pedro já possuía, transformam o casal em um dos mais proeminentes de San Jose e de grande influência nas comunidades francesa e hispânica. A união com Jesusita era exatamente o que Pedro precisava para estabelecer-se confortavelmente na Califórnia. A esposa, no entanto, jamais foi bem acolhida por Clémence de Saisset, mãe de Pedro. “Meu querido filho, uma mãe não pode amar aquela que a priva da esperança de rever seu filho novamente, e o torna tão indiferente a ela desde o seu casamento, um casamento que está longe de satisfazer o seu coração de mãe.”
As chantagens emocionais e acusações dirigidas à nora eram constantes. Pedro limita-se a responder que, se a mãe o ama, deve respeitar quem ele escolheu para viver. E a família não demora a crescer. Henriette de Saisset nasce em 1860, Ernest em 1862, Pierre em 1870 e Isabel em 1875. A filha mais nova pode ter sido assim registrada em homenagem à sobrinha princesa, filha do irmão distante, D. Pedro II do Brasil.
Starting fresh, building ties and creating opportunities
It was during a normal work journey that Pedro noticed a certain dweller of San Jose
After overcoming the shock that he experienced upon arrival in California, Pedro de Saisset gradually conquered his space in that side of world. The first decade required hard work and building a relationship of trust with the locals, migrants and immigrants, who settled in the region in search of opportunities. With patience and a lot of focus, he managed to prosper and acquire some assets. The son of D. Pedro I was intelligent, polite, well-educated and knew how to talk. The ability to speak English, Spanish and French allowed him to move through all groups doing business in San Jose and in the surrounding areas.
The port of Alviso, in this sense, was the perfect place to meet people and establish contacts. Everyone passed by his farm on the major road to the port. And it was during a normal working day, between loading hay and unloading wood, that he saw a certain dweller of San Jose. Shortly after this chance encounter, he received a letter written in Spanish. “If you want to be my husband, I want that too. I suggest that you come to my house and speak with Don Antonio Suñol. Tell him what your intentions are. When Don Antonio finds out that you want to marry me, you will be able to come to my house with more confidence. For my part, I will be able to receive you more transparency.”
The letter was signed by Maria de Jesus Suñol, widow of Jose Suñol, who had been murdered in March 1855. After her husband's death, Jesusita went to live in her father-in-law's home with her three children: Dolores, Josefa and Narciso. The Suñols were a wealthy family with great political influence in the region. Don Antonio Maria, father of Jose, was born in Barcelona, Spain, and educated in France. In the second half of the 19th century, he was among the largest landowners in San Jose and was mayor of the city for two terms, in 1826 and 1841.
Driven by love or practicality and common interests, Pedro and Jesusita got married on January 17, 1859, not long after this letter. The ceremony took place at St. Joseph’s Church, built on land donated by D. Antonio. At first, the couple lived in a modest adobe house on Market Plaza. In the year following the marriage, he was still registered in the census as a handyman, receiving daily wages. But this situation did not take long to change and he became a real estate and insurance agent. But Pedro knew well that life would change after the marriage. With new responsibilities, he began the construction of new house for the family on what was then becoming a fashionable neighborhood. Built in the Italianate style, the house had three floors and a large garden.
To the union with Pedro, Jesusita brought with her Jose's inheritance, a share in a large rancho, and some land from her own family, the Palomares. These assets, added to those that her husband already owned, made the couple one of the most prominent in San Jose and of great influence in the French and Hispanic communities. The marriage with Jesusita was exactly what Pedro needed to settle down comfortably in California. His wife, however, was never welcomed by Clémence de Saisset, Pedro's mother. “My dear son, a mother cannot love one who deprives her of the hope of seeing her son again, and makes him so indifferent to her since his marriage, a marriage which is far from satisfying a mother's heart.”
Emotional blackmailing and accusations directed at her daughter-in-law were constant. Pedro limited himself to replying that, if his mother truly loved him, she should demonstrate respect to the woman he chose to spend his life. And the new family did not take long to grow. Henriette de Saisset was born in 1860, Ernest in 1862, Pierre in 1870 and Isabel in 1876. The youngest daughter may have gotten such a name as a tribute to Pedro’s princess niece, daughter of his distant brother, D. Pedro II of Brazil.
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