As evidências apresentadas pelo blog levaram o museu de Paris a alterar o título da obra
De volta ao grande mistério. Para avivar-lhes a memória, lembro que essa história começou no dia 2 de maio, quando o blog publicou o post “Uma linda mulher”, no qual apresentou Clémence de Saisset e divulgou o único retrato conhecido dela, obtido no museu de Saisset, na Califórnia.
Logo depois, o leitor Acervo.Imperial levantou a possibilidade de a mulher na pintura ser outra pessoa. Descobrimos, nesse ponto, que obra idêntica estava exposta no Musée de la Vie Romantique, em Paris, identificada como “Retrato de Maria Malibran”, famosa cantora lírica, falecida em 1836. A partir daqui, sugiro-lhes uma releitura dos posts “Prezados leitores, um alerta”, do dia 12 de maio, e, especialmente, do post “A mulher da pintura ainda é mistério”, divulgado em 31 de maio.
Conforme prometido, o blog iniciou uma investigação na Califórnia e na França, e contatou diversas casas europeias, especializadas em venda de obras de arte, com a intenção de determinar a verdadeira identidade da mulher. O blog descobriu que em dois leilões, ocorridos nos anos 90, o quadro foi negociado sob o título “Retrato de mulher”, de autoria do pintor Ary Scheffer, datado de 1831. Em ambas as ocasiões, não houve qualquer menção a Maria Malibran.
Diante dessa e de outras evidências apresentadas pelo blog, o Musée de la Vie Romantique decidiu alterar o título da obra. A referência a Maria Malibran foi retirada e o quadro voltou a se chamar “Retrato de mulher”. No dia 12 de outubro, o blog reuniu-se em Paris com o museu. No decorrer das conversas, a instituição admitiu que, de fato, faltavam elementos que os autorizassem a estabelecer a identidade da retratada como sendo a referida cantora lírica.
O museu acrescentou, ainda, algo que o blog já havia levantado, no mês de maio. O catálogo resonné das obras de Ary Scheffer não registra que ele tenha feito tal retratado. O objetivo de uma publicação desse tipo é, justamente, catalogar de forma abrangente todas os trabalhos de um artista.
O museu, no entanto, optou por, nesse estágio, não identificar o quadro como “Retrato de Clémence de Saisset”, mas se surgirem evidências nesse sentido, demonstraram que estão abertos a novos entendimentos. Concordamos que a investigação seguirá em curso e o blog irá compartilhar todos os achados com a direção da casa .
Sabemos que o filho de Pedro de Alcantara Brazileiro de Saisset, o pintor Ernest de Saisset, estudou com grandes nomes da pintura em Paris. Em carta endereçada ao pai, redigida em 1893, ele relata que copiou o retrato da avó e que, antes de enviá-lo para a Califórnia, irá submetê-lo à avaliação de Charles-Alexandre Coessin de la Fosse, artista conhecido pela capacidade de harmonizar cores e formas. Mas, na correspondência, já adverte o pai: meu tio disse que prefere o meu.
Ao assinar o retrato, Ernest indica que se
trata de cópia feita a partir de obra original do artista Ary Scheffer. Além disso, no inventário de bens deixados pela família de Saisset, concluído em 1951, o quadro em questão é identificado como “Avó”.
The woman in the portrait
The evidence presented by the blog led the Paris museum to change the title of the work
Back to the great mystery. To jog your memory, I remember that this story began on May 2, when the blog published the post “A Beautiful Woman”, in which it introduced Clémence de Saisset and released the only known portrait of her, obtained from the De Saisset Museum, in California.
Soon after, the reader Acervo.Imperial raised the possibility of the woman in painting being someone else. At this point, we discovered that an identical work was exhibited at the Musée de la Vie Romantique, in Paris, identified as “Portrait of Maria Malibran”, a famous opera singer, deceased in 1836. From here, I suggest a rereading of the posts “Dear Readers, an alert”, ´published on May 12, and especially from the post “The Woman in Painting is still a mystery”, released on May 31.
As promised, the blog started an investigation in California and France, and contacted several European houses specializing in the sales of works of art, with the intention of determining
the true identity of the woman. The blog found that in two auctions, held in the 1990s, the painting was traded under the title “Portrait of a Woman”, by painter Ary Scheffer, dated 1831. On both occasions there was no mention of Maria Malibran.
In view of this and other evidences presented by the blog, the Musée de la Vie Romantique decided to change the title of the work. The reference to Maria Malibran was removed and the painting went back to be called “Portrait of a Woman”. On October 12, the blog met in Paris with the museum. During the conversations, the institution admitted that, in fact, they lacked elements that would authorize them to establish the identity of the portrayed as the aforementioned lyric singer.
The museum also added something that the blog had already raised in May. The Resonné catalog of Ary Scheffer's works does not record that he made such a portrait. The purpose of such a publication is precisely to comprehensively catalog all the works of an artist.
The museum, however, chose, at this stage, not to identify the painting as “Portrait of Clémence de Saisset”, but if evidence emerges to that effect, they have demonstrated to be open to a new understanding. We have agreed that the investigation will continue and the blog will share all findings with the management of the museum.
We know that painter Ernest de Saisset, the son of Pedro de Alcantara Brazileiro de Saisset, have studied with great artists while living in Paris. In a letter addressed to his father, written in 1893, Ernest reported that he had copied his grandmother's portrait and, before sending it to California, he would submit it to the evaluation of Charles-Alexandre Coessin de la Fosse, a painter known for his ability to harmonize colors and shapes. In the same correspondence, he warns his father: my uncle said that he prefers mine.
When signing the portrait, Ernest has intentionally indicated that he has made a copy from the original work of artist Ary Scheffer. Moreover, in the inventory of property left by the DE SAISSET family, completed in 1951, the picture in question is identified as “Grandmother”
Olá Tina, td bem? Meu nome é Eudoxios Anastassiadis. Parabens pelo seu blog / site, te achei pois estou querendo descobrir quem é a pessoa de um quadro que arrematei em um leilão. Acho que descobri outro retrato da Clémence de Saisset e desta vez no Brasil. E tem tudo a ver pois este leilão era de várias peças de acervo da época do império de uma das mais importantes fazendas deste periodo. E foi pintado por Henri Decaisne entre 1830-1835. Tambem pode ser que estejamos enganados e ambos os retratos sejam realmente da Maria Malibran. Mas uma coisa é inegável: ambos os retratos ( o meu e do museu de Paris) são a mesma pessoa. Mesmo nariz, mesmos olho…
Que história fantástica, Tina! Um verdadeiro trabalho de detetive! E, o melhor: uma delícia de ler! :)