A guerra contra o irmão consome os recursos do D. Pedro e dificulta o pagamento da pensão ao filho
Logo que Pedro de Alcantara Brazileiro nasceu, D. Pedro apressou-se em assegurar a Clémence de Saisset que, apesar das circunstâncias o impedirem de reconhecer o filho, ele jamais o abandonaria financeiramente. “...e proverá os meios para a sua existência e educação”, dizia mensagem à mãe da criança, datada de novembro de 1829.
Mas a promessa não foi cumprida. A partir de 7 de abril de 1831, a situação da francesa e do menino começa a ser afetada pela abdicação de D. Pedro ao trono brasileiro. Um pouco depois, ele se muda para a Europa, onde inicia longa batalha contra o irmão, D. Miguel, três anos mais novo, para garantir o trono de Portugal à filha Maria da Glória, nascida no Rio de Janeiro em 1819. A menina, neta de D. João VI, passou a ter direito ao trono aos sete anos de idade. Com a morte do avô, o pai foi coroado Pedro IV de Portugal e estabeleceu um entendimento com o irmão, pelo qual Maria da Glória seria a rainha.
Mas D. Miguel ignorou o acordo firmado e tomou o trono para si. Sobre ele, pairam suspeitas de que não era filho de D. João VI, mas de Carlota Joaquina com um amante, possivelmente o marquês de Marialva. Da infância à vida adulta, Miguel e Pedro nunca foram grandes amigos. A mãe sempre deixou clara a sua preferência pelo caçula e existe a possibilidade de ter tramado a morte do marido com a ajuda do próprio filho.
A traição do irmão, ao usurpar o trono que seria de Maria de Glória, deu a D. Pedro a chance de confrontar Miguel de forma definitiva, mas o custo foi muito alto. Diante da resistência da França e da demora da Inglaterra em fornecer apoio financeiro para as manobras militares, a guerra consumiu muito dos recursos do duque de Bragança. Uma das consequências dessa escassez de fundos foi a interrupção no pagamento da pensão ao filho.
Em julho de 1831, o marido de Clémence, Pierre Félix, demonstra o seu descontentamento com a situação em carta endereçada a Francisco Gomes da Silva, secretário particular de D. Pedro. “Entendo perfeitamente que, se Sua Majestade está forçada a interromper temporariamente a pensão de Mme Saisset, não poderá vir ao meu socorro. Sendo assim, farei tudo o que for possível para, de forma honrosa, suportar o fardo que Sua Majestade me impõe.”
Em novembro do mesmo ano, Pierre se dirige diretamente ao ex-amante da esposa e cobra-lhe atenção aos compromissos firmados. “A deferência que sempre demonstrei a Vossa Majestade deve ser motivo suficiente para que me conceda um favor, o qual, acredito, mereço receber, devido ao meu comportamento, tanto para com Vossa Majestade como para com vosso filho”. Os anos que se seguiram foram de constantes reinvindicações financeiras aos representantes de D. Pedro.
A inconstância nos pagamentos, no entanto, não se transformou em motivo forte o suficiente para afastar os de Saisset do pai biológico do menino. Enquanto o primeiro imperador do Brasil morou na França, a criança era levada para ver um “Amigo”. Foi o que ocorreu na sexta-feira, dia 21 de outubro de 1831. “Madame, peço-lhe que faça a gentileza de estar em casa amanhã, entre meio-dia e uma hora, e tenha pronto e vestido o pequeno Pedro, para que possa vir comigo fazer uma visita a meu Mestre”, recomendava Gomes da Silva. “...ele me fazia pular nos seus joelhos e me dava doces”, lembrará Pedro de Alcantara Brazileiro 30 anos depois, ao descobrir a verdadeira identidade do dito amigo.
Short blanket
The war against his brother consumes D. Pedro's resources and makes it difficult to pay child support
As soon as Pedro de Alcantara Brazileiro was born, D. Pedro hastened to assure Clémence de Saisset that, despite circumstances preventing him from recognizing his son, he would never financially abandon him. “...and will provide the means for his existence and education”, said a message to the child's mother, dated November 1829.
But the promise was not fulfilled. From April 7, 1831, the situation of the French woman and the boy began to be affected by the abdication of D. Pedro to the Brazilian throne. A little later, he moved to Europe, where he began a long battle against his brother, D. Miguel, three years younger, to guarantee the throne of Portugal to his daughter Maria da Glória, born in Rio de Janeiro in 1819.
The girl, granddaughter of D. João VI, became entitled to the throne at the age of seven. With the death of the grandfather, the father was crowned Pedro IV of Portugal and established an understanding with his brother, by which Maria da Glória would be the queen.
But D. Miguel ignored the signed agreement and took the throne for himself. There are suspicions hovering over him that he was not the son of D. João VI, but of Carlota Joaquina with a lover, possibly the Marquis of Marialva. From childhood to adulthood, Miguel and Pedro were never great friends. The mother always made clear her preference for the youngest and there is a possibility that she plotted her husband's death with the help of her own son.
His brother's betrayal, by usurping the throne that would belong to Maria de Glória, gave D. Pedro the chance to confront Miguel definitively, but the cost was very high. Faced with France's resistance and England's delay in providing financial support for military maneuvers, the war consumed much of the Duke of Bragança's resources. One of the consequences of this shortage of funds was the interruption in child support payments.
In July 1831, Clémence's husband, Pierre Félix, demonstrated his dissatisfaction with the situation in a letter addressed to Francisco Gomes da Silva, D. Pedro's private secretary. “I fully understand that if His Majesty is forced to temporarily interrupt Mme Saisset's pension, he will not be able to come to my rescue. Therefore, I will do everything possible to honorably bear the burden His Majesty imposes on me.”
In November of the same year, Pierre went directly to his wife's former lover and asked him to pay attention to the commitments they had made. "The deference I have always shown Your Majesty should be reason enough for you to grant me a favor, which I believe I deserve to receive, on account of my behavior both towards Your Majesty and towards your son." The years that followed were filled with constant financial demands on D. Pedro's representatives.
The inconstancy in payments, however, did not become a strong enough reason to distance de Saisset from the boy's biological father. While the first emperor of Brazil lived in France, the child was taken to see a “Friend”. This was what happened on Friday, October 21, 1831. “Madame, I beg you to be so kind as to be at home tomorrow, between noon and one o'clock, and have little Pedro ready and dressed, so that who can come with me to visit my Master”, recommended Gomes da Silva. “...he made me jump on his knees and gave me sweets”, recalls Pedro de Alcantara Brazileiro 30 years later, when he discovered the true identity of said friend.
Comments