“Fico feliz de saber que você resolveu trabalhar com nosso pai”, diz o irmão em carta datada de 1847
Logo depois de terminar seus estudos no Louis-le-Grand, no final de 1847, Pedro de Saisset, filho do imperador D. Pedro I, vivenciou um dos acontecimentos mais marcantes da história francesa. A Revolução de 1848, ou Primavera dos Povos, é um período sangrento da história europeia e, particularmente, da França. Em 24 de fevereiro, após sofrer muita pressão, o rei Luis Felipe I, da dinastia dos Orléans, abdicou ao trono. Mal tinham ele e a rainha deixado o palácio, os revoltosos invadiram a residência, apossaram-se do último trono real da França e queimaram-no sob aclamação popular.
O ato abriu caminho para uma série de rebeliões. Em 22 de junho, os operários tomaram as ruas de Paris, no episódio que ficou conhecido como Jornadas de Junho e custou a vida de 5,7 mil pessoas. Neste mesmo dia, no Porto do Havre, Pedro embarcou no Émile, um navio a três mastros construído na cidade de Bayonne, que seguiu para o Rio de Janeiro com 30 passageiros, sob o comando do capitão Edouard Dury.
Nos registros da embarcação, consta ele tinha 18 anos e meio, era estudante de Direito, nascido em Paris, onde também morava. A travessia do Atlântico demorou cerca de dois meses, com o desembarque em 25 de agosto, três dias antes de Pedro de Saisset comemorar seu 19º aniversário. A viagem dele ao Rio de Janeiro está registrada em diário mantido pela Sourisseau Academy, que fica em San Jose, na Califórnia. Como Ernest, o filho mais velho, havia escolhido a carreira militar, na Marinha Francesa, ele aceitou a proposta do pai de tocar os negócios da família. “Fico feliz de saber que você resolveu trabalhar com nosso pai”, diz o irmão em carta datada de 1847.
Apesar de ter deixado a França em um momento de revoltas internas, a viagem não teve o objetivo de evitar o serviço militar, fato que pode ser comprovado pela iniciativa dele de se registrar na representação francesa, logo depois da chegada ao Brasil. Segundo especialistas consultados pelo Blog, o serviço militar seria obrigatório a partir dos 20 anos e Pedro sequer tinha 19 quando deixou o seu país. É verdade que, nesta época, muitos jovens mudavam-se para o exterior antes de completarem 20 anos. Mas, se voltassem à França, ou fossem descobertos onde estavam, poderiam ser processados e presos por deserção. Era o que determinava a Lei Gouvion-Saint-Cyr.
Diante de um cenário político tão complicado na Europa, o Rio se apresentou como uma oportunidade para Pedro aprender um ofício e assumir maiores responsabilidades, depois de concluir os estudos. O comerciante Pierre de Saisset, que Pedro até então acreditava ser seu pai, também tinha loja em Paris e lá ficou para cuidar dos negócios. A princípio, a intenção era que trocassem de postos. Quando um estivesse na Europa, o outro estaria no Brasil.
No dia 4 de setembro, ele se apresentou ao consulado francês, onde foi recebido pelo cônsul Théodore Taunay. A família Taunay estava no Rio de Janeiro desde 1816. Nicolas-Antoine Taunay veio para o Brasil com a Missão Artística Francesa, acompanhado de seus cinco filhos. Théodore era irmão de Félix-Émile Taunay, preceptor do imperador D. Pedro II, meio-irmão do recém-chegado Pedro de Saisset.
Au revoir Paris! Salut Rio...
“I am happy to know that you decided to work with our father”, says the brother in a letter dated 1847
Shortly after finishing his studies at Louis-le-Grand, at the end of 1847, Pedro de Saisset, son of Emperor D. Pedro I, experienced one of the most remarkable events in French history. The Revolution of 1848, or Spring of the Peoples, is a bloody period in European history, and particularly in France. On February 24, after suffering a lot of pressure, King Louis Philippe I, of the Orléans dynasty, abdicated the throne. As soon as he and the queen had left the palace, the rebels invaded the residence, seized the last royal throne of France and burned it to popular acclaim.
The act paved the way for a series of rebellions. On June 22, workers took to the streets of Paris, in what became known as the June Days and claimed the lives of 5,700 people. That same day, in the Port of Havre, Pedro boarded the Émile, a three-masted ship built in the city of Bayonne, which headed for Rio de Janeiro with 30 passengers, under the command of Captain Edouard Dury.
In the vessel's records, he was 18 and a half years old, a law student, born in Paris, where he also lived. The Atlantic crossing took about two months, with the landing on 25 August, three days before Pedro de Saisset celebrated his 19th birthday. His trip to Rio de Janeiro is recorded in a diary kept by the Sourisseau Academy, located in San Jose, California. As Ernest, the eldest son, had chosen a military career, in the French Navy, he accepted his father's proposal to run the family business. “I am happy to know that you decided to work with our father,” says the brother in a letter dated 1847.
Despite having left France at a time of internal revolts, the trip was not intended to avoid military service, a fact that can be proven by his initiative to register with the French consulate, shortly after his arrival in Brazil. According to experts consulted by the Blog, military service would be mandatory from the age of 20 and Pedro was not even 19 when he left his country. It is true that, at this time, many young men moved abroad before reaching the age of 20. But if they returned to France, or were discovered abroad, they could be prosecuted and arrested for desertion as per the Gouvion-Saint-Cyr Law.
Taking into consideration the complicated political scenario in Europe, Rio presented itself as an opportunity for Pedro to learn a trade and take on greater responsibilities after completing his studies. The merchant Pierre de Saisset, whom Pedro until then believed to be his father, also had a shop in Paris and stayed there to take care of business. At first, the intention was that they exchange posts. When one was in Europe, the other would be in Brazil.
On 4 September, he reported to the French consulate and was greeted by Consul Théodore Taunay. The Taunay family had been in Rio de Janeiro since 1816. Nicolas-Antoine Taunay came to Brazil with the French Artistic Mission, accompanied by his five children. Théodore was the brother of Félix-Émile Taunay, preceptor of Emperor D. Pedro II, half-brother of the newly arrived Pedro de Saisset.
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